GIARDÍASE CANINA !!!!!! CUIDADO!!!!
Giardíase Canina - Perguntas e Respostas
As verminoses são grandes inimigas da criação, e a melhor forma de controlá-las é fazendo exames periódicos.
Vale lembrar, que em diferentes regiões temos problemas com diferentes parasitas e o médico veterinário deve sempre ser consultado.
Introdução
A giardíase é uma doença comum de cães, gatos e humanos, que freqüentemente é subestimada. É uma zoonose importante e é imperativo que tanto o animal de estimação quanto a família protejam-se da infecção.
O tratamento pode fornecer um controle eficaz, mas, em muitas situações, as reinfecções são comuns, devido à dificuldade em se eliminar a fonte de infecção do meio ambiente.
A vacinação para estimular o hospedeiro a resistir ao parasita demonstrou ser uma solução eficaz de longo prazo para controlar esta doença.
Pelo fato da Giárdia ser um protozoário extracelular, ainda existem muitas dúvidas em relação ao modo de ação da vacina. A GiardiaVax é uma vacina constituída por trofozoítos inativados de Giárdia, e por se tratar de uma vacina morta, são necessárias duas doses na primovacinação, e a proteção só é conferida cerca de 15 dias após a segunda dose. É indicada para a vacinação de cães saudáveis a partir de 8 semanas de idade, com intervalo de duas a quatro semanas entre as doses e a revacinação é anual.
O propósito deste artigo é discutir alguns destes pontos, empregando conceitos
técnicos e experiências cotidianas, compartilhadas com veterinários de todo o
Brasil, ao longo dos anos.
TRANSMISSÃO DE GIÁRDIA
Quais são os ambientes que representam maior risco para a transmissão de
Giárdia os seus hospedeiros, humanos e animais?
As taxas de infecção são altas nas áreas onde existem grandes populações de
humanos e animais, devido a maior oportunidade de transmissão direta e indireta
da enfermidade. A ingestão de somente 10 cistos é capaz de causar a infecção. A
maior prevalência das infecções por Giárdia ocorre entre os indivíduos jovens,
sem resistência imunológica, e que são mais suscetíveis à ingestão de material
fecal. Também aumenta a suscetibilidade quando o hospedeiro não recebeu
imunidade passiva materna suficiente, quando apresenta alguma enfermidade
concorrente, estresse ou nutrição inadequada. Estas observações indicam que a
Giárdia é um parasita que pode ser transmitido facilmente entre as espécies
animais e que os animais infectados podem funcionar como reservatórios para a
enfermidade no humano.
Quais são as fontes de infecção mais comuns?
As fontes de infecção mais comuns são água e fezes contaminadas. A
transmissão fecal-oral de Giárdia é comum tanto em animais como em humanos;
os animais em confinamento podem estar expostos a grandes quantidades de
cistos infectantes no material fecal, o qual aumenta as possibilidades de
transmissão da enfermidade. A coprofagia, comum em animais, é uma via
significativa de auto-infecção e amplifica a disseminação da enfermidade nas
populações. A contaminação de efluentes com fezes de animais infectados pode
favorecer a disseminação em humanos e animais; os cistos de Giárdia podem
sobreviver em água durante vários meses.
Patogenia e apresentações clínicas
A Giárdia se apresenta sob duas formas evolutivas: os trofozoítos e as
formas císticas. Esses microrganismos são resistentes na natureza? Quais
são as condições ambientais ideais para a viabilidade deste parasita em
longo prazo?
Os trofozoítos de Giárdia não sobrevivem no meio ambiente. No entanto, os cistos
são resistentes a alguns fatores ambientais e suscetíveis a outros. Podem
sobreviver por longos períodos em águas com baixa concentração de bactérias e
contaminantes orgânicos. As temperaturas ótimas para a sobrevivência dos cistos
na água variam de 4 a 8ºC. O congelamento prolongado e as temperaturas
superiores a 20ºC danificam os cistos, a ebulição os destrói instantaneamente e a
dessecação e a radiação ultravioleta os inativam em 24 horas.
Quais são os sinais clínicos em animais, depois da infecção inicial?
Os sinais clínicos podem ser severos, mas uma grande parcela dos infectados
pode permanecer assintomática, e os animais jovens são os que, mais
freqüentemente, desenvolvem os sintomas. Os sinais clínicos da giardíase
incluem diarréia mal cheirosa aguda ou crônica, vômitos, dor abdominal,
desidratação, perda de peso ou redução do ganho do mesmo. A enfermidade
pode ser responsável por casos de atopia em cães e gatos.
Existe algum sinal patognomônico da infecção por Giárdia?
Não existem sinais característicos da giardíase, pois diversas enfermidades
intestinais se assemelham a ela, como ocorre com as gastroenterites virais, as
bacterianas e as causadas por outros parasitos. Também se assemelha às
alergias de origem alimentar, à enfermidade da má-absorção, a gastroenterite
induzida por fármacos e as enfermidades alérgicas.
Patogenia
Como é a patogenia da giardíase?
O intestino delgado colonizado com Giárdia, com freqüência, está cheio de muco
e líquido, e mostra problemas na atividade das enzimas digestivas (amilase,
protease, lipase, dissacaridase). A má absorção clínica, em casos de giardíase,
está associada com a atrofia severa das vilosidades e hiperplasia das criptas.
Quando os trofozoítos do parasita colonizam o intestino delgado, causam uma
redução difusa da altura das microvilosidades, e, por tanto, uma perda
generalizada da superfície de absorção. Esta redução produz má absorção de
glicose, eletrólitos e água, e afeta adversamente a digestão ao reduzir a atividade
da dissacaridase. É observado um aumento na motilidade intestinal nos animais
infectados experimentalmente. Em resumo, a infecção por Giárdia gera má
absorção intestinal, má digestão e hipermotilidade, responsáveis, pelo menos em
parte, pela diarréia observada. Por último, recentemente foi demonstrado que a
giardíase causa um aumento na absorção de macromoléculas do intestino,
associado com hiperplasia de células adiposas neste órgão e no tecido cutâneo.
Estes achados sugerem que os sintomas alérgicos, observados durante e depois
das infecções com Giárdia, podem ser o resultado da sensibilização do
hospedeiro às proteínas dos alimentos e/ou do parasita.
A giardíase é uma enfermidade com incidência estática ou se trata de uma
enfermidade emergente em todo o mundo?
É considerada uma enfermidade emergente, devido à falta de métodos efetivos
de controle em humanos e animais. Um dos principais problemas é a
contaminação ambiental disseminada. A Giárdia com seu ciclo de vida simples e
a capacidade de seus cistos de sobreviver no ambiente, tem permitido que a
infecção se converta em uma das mais predominantes enfermidades parasitárias
em muitas espécies de mamíferos.
DIAGNÓSTICO:
Quais são os métodos diagnósticos mais indicados?
O método diagnóstico mais indicado, hoje, para a detecção de Giárdia nas fezes é
a Flotação com Sulfato de Zinco com Centrifugação. Existem kits ELISA que
detectam os antígenos de Giárdia (GSA-65) nas fezes, mesmo que o animal não
esteja eliminando cistos no momento da realização do exame, permitindo um
diagnóstico rápido e preciso sem a necessidade de um microscópio. Porém, estes
testes são custosos e não fornecem a informação sobre o número de cistos por
grama de fezes.
O método de Flotação com Sulfato de Zinco e Centrifugação é um teste
diagnóstico econômico e muito eficaz, sendo capaz de identificar mais de 96% de
cães infectados experimentalmente. A maioria das falhas está ligada a erros
humanos, já que muitas vezes, pólen ou leveduras são confundidos com cistos de
Giárdia, gerando resultado falso positivos; outras vezes os cistos podem passar
despercebidos. A etapa da centrifugação também é de extrema importância, pois
a amostra deve ser concentrada antes de se iniciar a pesquisa de cistos.
Outro fator importante é a necessidade de utilizar três amostras de fezes,
coletadas em dias alternados, ao longo de uma semana. Isto porque a eliminação
de cistos é intermitente, o que pode gerar resultados falso-negativos quando se
utiliza uma única amostra.
TRATAMENTO:
Quais são os tratamentos mais comuns em medicina veterinária?
Os agentes quimioterápicos incluem os nitroimidazóis (metronidazol, tinidazol),
furadolizona, benzimidazóis (febendazol, albendazol) entre outros.
O mais comum é que a base do tratamento da giardíase seja eliminar os sinais
clínicos associados com a infecção. Além disso, os animais assintomáticos
colonizados com o parasito, também requerem tratamento, pois a infecção pode
gerar um aumento na susceptibilidade a outras enfermidades e/ou reduzir o
ganho de peso e a eficiência alimentarem. Os animais infectados, que estão em
contato direto com os humanos ou com seu meio ambiente, devem ser tratados.
Nos animais, freqüentemente ocorre a reinfecção, se os cistos infectantes não
são retirados do ambiente. Isto implica em uma limpeza e desinfecção profundas
sempre que possível, além de assegurar que a água e o alimento não se
contaminem com as fezes.
PROFILAXIA
Quais os tipos de intervenções externas são necessários para controlar a
infecção por Giárdia em áreas endêmicas?
-Evitar o contato com animais infectados;
-Evitar a ingestão de água e alimentos contaminados;
-Destruir ou remover os cistos infectantes da água e do alimento que serão
consumidos e do ambiente;
-Tratar e remover os animais infectados do ambiente;
-Boa higiene geral;
-Usar vacinas para prevenir a enfermidade.
Quais são as dificuldades práticas que os proprietários de cães, que estão
expostos ao ambiente externo enfrentam, a fim de prevenir a reinfecção?
A reinfecção freqüentemente ocorre, mesmo em animais já tratados, a menos que
os cistos infectantes sejam eliminados do meio ambiente. Isto implica em uma
descontaminação ambiental, bem como assegurar que a água e o alimento não
estejam contaminados pelas fezes. É óbvio que a completa erradicação dos cistos
no meio ambiente, na maioria dos casos, é difícil de conseguir. Apesar da
eficácia de muitos tratamentos por quimioterápicos, o sucesso do controle da
giardíase também depende da descontaminação do ambiente. Hoje, o
desinfetante mais eficaz indicado para o controle da Giárdia é a Amônia
Quaternária.
A RESPOSTA IMUNOLÓGICA CONTRA GIÁRDIA:
A imunidade conferida após a infecção natural é duradoura ou transitória?
A imunidade natural é transitória. Os níveis de imunoglobulinas circulantes nos
animais que já se infectaram com Giárdia são similares aos medidos nos animais
não infectados. A incapacidade do animal de formar uma forte resposta
imunológica pode ser devido à natureza intraluminal e não invasiva do parasito.
As infecções crônicas são comuns em humanos e animais. Além disso, os sinais
clínicos severos relatados em animais imunossuprimidos infectados com Giárdia,
e a menor incidência de infecção e diarréia nos indivíduos expostos
repetidamente ao protozoário, mostram o significado da imunidade específica na
eliminação da infecção. Em conjunto, estas informações serviram de base para o
desenvolvimento de uma vacina antigiárdia.
A imunidade protetora, que se caracteriza predominantemente pela
produção de IgA local ou IgG e IgM, também contribui para a erradicação da
Giárdia?
Foi demonstrado que as imunoglobulinas IgA e IgG do soro são responsáveis por
uma resposta imune protetora. A IgG tem atividade giardicida e a IgA atua
recobrindo os trofozoítos, impedindo assim sua aderência à parede intestinal. A
existência de IgG e dos trofozoítos recobertos por IgA foi demonstrada em
animais experimentais durante o processo de eliminação do parasito. A
inoculação de anticorpos específicos via intraperitoneal, intravenosa ou
intraluminal produziu uma redução significativa no número de parasitos. As
infecções naturais geraram títulos baixos de anticorpos na mucosa e no soro, e
mesmo que os animais vacinados não tivessem eliminado o parasito,
apresentavam altos títulos de IgA e IgG na mucosa e no soro.
A giardíase crônica se apresenta nos animais que não são capazes de
eliminar o parasito do intestino? Quais são as deficiências da resposta
imune nesta condição?
Sim. Os trofozoítos de Giárdia são parasitos obrigatórios do lúmem intestinal e
sua exposição é semelhante com o que ocorre com muitas proteínas alimentícias.
Se os linfócitos supressores estão estimulados predominantemente pelas
proteínas de Giárdia, isto induz a tolerância ao parasito. Os trofozoítos de Giárdia
são reconhecidos pelos animais com giardíase crônica como se fossem simples
proteínas do alimento. Para poder eliminar o parasito é necessário que o hóspede
receba um estímulo através de uma elevação abrupta dos antígenos, que
estimulará o sistema imunológico.
RESPOSTA IMUNOLÓGICA INDUZIDA PELA VACINAÇÃO
Considerando a heterogenicidade da Giárdia, é possível que a vacina tenha
utilização universal?
Os estudos demonstraram que a vacinação conferiu proteção contra a infecção
experimental com uma cepa de Giárdia diferente da cepa vacinal. Nestes estudos,
obteve-se proteção após a vacinação com uma cepa de Giárdia de ovinos,
seguido de um desafio com um isolamento ambiental. Diversos estudos
demonstraram que existem diferenças mínimas entre as proteínas das cepas de
Giárdia isoladas de animais e humanos, e que o soro imune reconhece as
proteínas similares de Giárdia. Os animais que eliminaram o parasita produziram
uma resposta imunológica específica contra os antígenos comuns de diferentes
isolamentos. Portanto, a vacina confere proteção contra as infecções causadas
pela maioria das cepas de Giárdia.
Como pode a vacinação dos animais contribuir para os problemas de saúde
pública de giardíase?
Existe um fundamento lógico para pensar que a vacina antigiárdia minimiza a
colonização do intestino com trofozoítos e reduz ou interrompe a eliminação de
cistos nas fezes, o que prevenirá a enfermidade clínica nos animais e protegerá
outros animais contra a exposição aos cistos infectantes. Isto protegerá o meio
ambiente e reduzirá os riscos de transmissão da enfermidade entre animais e
humanos.
Está provado que a vacina estimula o animal a resistir ao parasito, sendo uma
solução efetiva em longo prazo para o controle desta enfermidade parasitária.
Como foi comprovada a eficácia da vacina?
Foram realizados estudos em cães para testar a eficácia da vacina. Nestes
experimentos, os animais vacinados foram desafiados um ano após a vacinação.
Não foi observada diarréia nestes animais e somente uma minoria eliminou
poucos cistos (média de 0,8 cistos/g fezes) por um curto período, ao redor de
cinco dias. Não foram encontrados trofozoítos no intestino delgado destes cães
no final do experimento. Os cães do grupo controle apresentaram sinais clínicos,
eliminaram cistos por aproximadamente 35 dias e apresentaram trofozoítos no
intestino delgado no final do teste, no 42º dia de observação.
VACINAÇÃO: ESCLARECIMENTOS IMPORTANTES
Qual a importância da vacinação?
Como já foi discutida anteriormente, a imunidade natural contra Giárdia é de curta
duração, e mesmo que os tratamentos se mostrem eficazes, a reinfecção em
animais é muito freqüente, devido à dificuldade de se eliminar os cistos
infectantes do ambiente. Um animal vacinado, além de protegido contra a
giardíase, não representará mais uma fonte de infecção a outros animais e até
mesmo a seres humanos contactantes.
Um cão vacinado com GiardiaVax pode apresentar cistos de Giárdia nas
fezes?
Sim. Um animal com o esquema vacinal completo, quando entra em contato com
um elevado número de cistos de giárdia, ou seja, passa por um desafio, poderá
eliminá-los nas fezes, por um período de 7 a 10 dias. A quantidade de cistos
eliminados é extremamente pequena (0,8 cistos/grama de fezes) e estudos
realizados sugerem que estes cistos são inviáveis; além disso, o cão não
apresentará sinais clínicos de Giardíase.
E se o animal vacinado manifestar sintomas compatíveis com giardíase e o
diagnóstico for comprovado no exame de fezes?
Neste caso três possibilidades devem ser consideradas:
1. O animal já estava infectado antes do início da vacinação;
2. O animal se infectou durante ou logo após o término do esquema vacinal. É
importante lembrar que na primovacinação o animal é considerado imune, em
média, 15 dias após a segunda dose, podendo se infectar em qualquer
período anterior a esta data.
1ª dose 2ª dose PROTEÇÃO
3. O animal não conseguiu responder à vacinação:
Lembramos que cada animal tem sua resposta específica e individual,
sendo que a grande maioria (90%) apresenta uma resposta satisfatória, uma
minoria (5%) não responde à vacinação e outra minoria (5%) responde muito
bem. É uma característica individual de qualquer espécie animal e deve ser
considerada. Isto fica claro quando vários animais recebem vacinas do mesmo
lote e um ou outro indivíduo não responde à vacinação. Portanto fica
evidenciada a incapacidade da resposta imunológica individual e não a falta de
eficácia do produto usado. Além disso, no caso da Giárdia, podemos nos
deparar com cães tolerantes ao antígeno vacinal, ou seja, cães que já
apresentaram Giardíase crônica. Nestes animais, nenhum estímulo do
antígeno (vacinal ou natural) induzirá resposta imune. Assim, em qualquer um
dos casos citados, o cão receberá a vacina, mas não ficará protegido. Vale
lembrar que se tratam de casos raros.
A vacina pode ser usada como tratamento?
Não. Assim como qualquer vacina, a GiardiaVax é indicada somente como
auxiliar na prevenção contra a giardíase canina. Caso um animal infectado seja
vacinado e apresente sintomas clínicos, o mesmo deverá ser tratado. A partir do
momento que o animal estiver com exame de fezes negativo (3 amostras) e com
o esquema vacinal completo, ele não se reinfectará.
Literatura Consultada:
1. OLSON, M.E.; CERI, H.; MORCK, D.W. Giardia Vacination. Parasitology
Today, 2000. May; 16(5): 177-218.
2. OLSON, M.E.; CERI, H.; MORCK, D.W. Preliminary data on the efficacy of
a Giardia vaccine in puppies. Can. Vet. Journal, 1997. Dec; 38: 777-779.
3. OLSON, M.E.; HANNIGAN, C.J.; GAVILLER, P.F.; FULTON, L.A. The use
of a Giardia vaccine as an immunotherapeutic agent in dogs. Can. Vet.
Journal, 2001. Nov; 42: 865-868.
4. Giardíase - Boletim Técnico. Fort Dodge Saúde Animal.
5. THOMPSON, A.; SCHANTZ, P.; LEIB, M.; OLSON, M.; TWEDT, D.;
ZISLIN, A. Giardia. Roundtable Discussion Proceedings, pág. 1-18.